Uma universidade é um espaço para o pensar e debater entre as pessoas e acabou por ser o local ideal para a realização de uma Pré-Conferência da Defensoria Pública. A USP Leste, localizada em uma das regiões mais carentes da cidade abriu suas portas nesse sábado, 26 de setembro, para que a população na zona leste pudesse levar seus pleitos à Instituição.
O senhor Edmundo Picasso Prado foi o primeiro a chegar. Antes mesmo da equipe de organizadores do evento, ele já aguardava a abertura das inscrições. Paulistano da Mooca, de sotaque carregado pelas influências italianas, estava presente para tratar da prevenção ao câncer de intestino. “Havia um serviço de prevenção a esse tipo de câncer que era disponibilizado pela Prefeitura em parceria com um hospital particular. Da noite para o dia, porém, sumiu, descontinuaram e ninguém no bairro foi avisado. Gostaria que a Defensoria interviesse e buscasse, junto à Prefeitura, a razão de não haver mais esse serviço”
O senhor José Gonçalves de Almeida é um veterano em Defensoria. Ele integrou o movimento pela criação da Instituição, em 2006, e já participou de todos os Ciclos de Conferências. “Eu moro na região de Interlagos [zona sul da Capital] e participo das Conferências desde sempre. Vim aqui na zona leste para trazer novas lideranças locais e conhecer o evento”. Apesar de morar do outro lado da cidade, o senhor Almeida conta que as zonas leste e sul de São Paulo têm muitas coisas em comum e histórias muito próximas.
“Todo mundo acha que as zonas sul e leste são muito diferentes quando, na verdade, não o são. Hoje, a grande problemática das duas regiões é sua regularização fundiária. Além disso, os problemas nesses dois locais começaram juntos: uns 30, 40 anos atrás, a cidade instituiu um polo industrial em Santo Amaro, na zona sul e, ao mesmo tempo, impediu que as pessoas morassem naquela área. O local escolhido para morar foi a zona leste. A prefeitura iniciou a construção de um monte de conjuntos habitacionais. O que você acha que aconteceu? As pessoas moravam na zona leste, mas trabalhavam na zona sul.” Concluiu.
Se o objetivo era o de povoar a região, a meta foi alcançada: atualmente, cerca de 4 milhões de pessoas vivem na zona leste e, com tanta gente, as questões trazidas pela população à Defensoria Pública são diversas. Karina da Silva Pereira e Keli de Oliveira Rodrigues são militantes do movimento feminista e atuam na Casa Viviane dos Santos, um centro de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. “Nós viemos reafirmar alguns pleitos, como a intensificação, pela Defensoria do combate à violência doméstica contra a mulher, além de um tratamento adequado a nós, mulheres”, disse Karina. “Também queremos que os Profissionais atuem pela desvinculação das medidas protetivas dos boletins de ocorrência”, completou Keli.
No final do evento, nove foram os Delegados eleitos e 20 as propostas aprovadas para a Conferência Estadual, a ser realizada em dezembro.
Fonte: DPESP