A Defensoria Pública promove, nesta terça (6) e quarta (7), na cidade de Santo André, no ABC paulista, uma audiência pública sobre contaminação por agrotóxicos nos alimentos. O evento será realizado em parceria com a Ouvidoria-Geral e a Escola da Defensoria (confira a programação).
O encontro também ficará marcado pela exposição de dados obtidos pelo Defensor Público Marcelo Novaes. Novaes é um dos organizadores, junto à Secretaria de Estado da Saúde, da audiência pública. Segundos parte dos dados, de 453 amostras de alimentos analisadas, entre 2012 e 2014, em ao menos 98 – ou seja, 21,6% do total – foram encontrados níveis insatisfatórios de agrotóxicos. Em 30 das amostras foram constatados resíduos de agrotóxicos proibidos no exterior (leia mais ao final do texto).
Com o objetivo de alertar a população quanto aos altos índices de contaminação encontrados em alimentos monitorados no Estado, o debate visa estimular o consumo de alimentos orgânicos e, para isso, serão abordados os riscos que os agrotóxicos representam à saúde humana e, particularmente, sua relação com determinados tipos de câncer como de mama, testículos e fígado.
A participação é aberta a todos os interessados e contará com a presença de autoridades, especialistas e movimentos sociais como Ministério da Agricultura, Secretaria Estadual da Agricultura, Vigilância Sanitária, Instituto Adolfo Lutz, Associação Brasileira de Supermercados, Ceagesp, Craisa e Semasa. Ao final, será elaborado um documento com propostas formuladas pela sociedade civil para monitoramento de contaminações e resíduos alimentícios.
De acordo com o Defensor, estarão em pauta questões como a necessidade de maior transparência, por parte dos fornecedores de água e alimentos, com relação aos produtos contaminados. Dentre os tópicos destacam-se: a demarcação de uma zona de exclusão de substâncias tóxicas nos municípios ao redor dos mananciais da Grande São Paulo, proibição da capina química nas cidades, contenção da pulverização aérea de agrotóxicos no Estado de São Paulo, bem como mudanças metodológicas nos exames de avaliação de contaminantes, além de obrigar o poder público a comprar produtos orgânicos para a dieta hospitalar etc..
Análise de alimentos
O Centro de Vigilância Sanitária, órgão integrante da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde enviou, em resposta a uma solicitação da Defensoria Pública, informações relativas ao monitoramento de contaminantes em alimentos coletados em grandes supermercados, das regiões da Capital e de Campinas, no período que vai de 2012 a 2014.
Os produtos monitorados foram abacaxi, alface, arroz, banana, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, fubá de milho, goiaba, laranja, maçã, mamão, manga, mandioca, morango, pepino, pimentão, repolho, tomate e farinha de trigo. O levantamento aponta que, no ano de 2012, foram analisadas 106 amostras, das quais 35 apresentaram situação insatisfatória quanto à presença de agrotóxicos, 6 foram constatadas substâncias proibidas no exterior como acefato e metamidofós. Em 2013, de 180 amostras, 30 se mostraram insatisfatórias e 11 com componentes proibidos.
Já no ano passado foram 167 amostras analisadas e 33 foram consideradas impróprias (sendo que 62 laudos ainda não tinham sido liberados). Destas, 13 continham componentes proibidos fora do país e, das amostras de alface, 60% foram consideradas insatisfatórias. O mesmo aconteceu com 70% das amostras de morango.
Os hortifrútis foram analisados como parte do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, coordenado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em parceria com as Coordenações de Vigilância Sanitária dos Estados.
Novaes relatou, em maio deste ano, terem sido encontrados agrotóxicos em níveis impróprios em cenouras, batatas, cebolas, tomates, morangos e pepinos. Cenouras e batatas, por exemplo, registraram a presença de metamidofós e, na cebola importada, de carbendazim.
Fonte: DPESP