Com informações de Agência Brasil e Repórter Brasil. Crédito das fotos: Mídia NINJA
Um grupo de índios guaranis lançou na última semana uma campanha para a demarcação das terras que ocupam tradicionalmente na cidade de São Paulo. O ato ocorreu em frente no Pátio do Colégio, marco de fundação da capital. Os índios ocuparam o local, onde funcionou o colégio mantido pelos padres jesuítas, na tarde de quarta-feira (16) e só saíram no dia seguinte para começar as atividades de divulgação da campanha. Além de debaterem a questão com representantes de movimentos sociais, os índios cantaram, dançaram e fumaram cachimbos cerimoniais.
“Nós estamos reivindicando a demarcação e reconhecimento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a última instância que falta para demarcação do nosso território que já foi reconhecido pela Funai [Fundação Nacional do Índio] como área de ocupação tradicional guarani”, disse David Karaí Popyguá, um dos líderes da comunidade que fica no Jaraguá. A Terra Indígena Tekoa Pyau tem atualmente 1,7 hectare (1 hectare é uma área equivalente à de um campo de futebol) e 800 habitantes. No entanto, segundo os guaranis, a Funai já reconheceu um território de 532 hectares para a comunidade.
A maior parte da área é, de acordo com Popyguá, destinada à preservação ambiental. No entanto, já exite pressão para que o uso das terras seja modificado. “Uma parte dessa terra, pela especulação imobiliária, querem transformar em área de desenvolvimento urbano. Nós estamos na luta para que toda essa área seja uma macrozona, que seria uma área de preservação ambiental”, explicou.
Em Parelheiros, extremo sul da cidade, onde vivem cerca de 1,3 mil guaranis, a Funai reconheceu a Terra Indígena Tenondé Porã, com 15,6 mil hectares. “É vital para a gente realmente preservar a cultura ter um espaço apropriado para ensinar as nossas crianças sobre o plantio, colheita, sobre toda a nossa tradição”, disse Karai Popyguá sobre a importância da demarcação.
Segundo os organizadores da campanha, basta apenas a assinatura das Portarias Declaratórias pelo ministro José Eduardo Cardozo para que se inicie o processo de indenização dos não índios que habitam os territórios reivindicados pelos indígenas. Em seguida, as terras estariam habilitadas para serem demarcadas e, num momento posterior, tituladas. De acordo com os guarani, a falta de espaço é a causa principal dos problemas vividos por eles na Grande São Paulo, como alta incidência de doenças, atropelamentos de crianças, e falta de saneamento básico, alimentação e água potável.
No manifesto, os guarani deixam claro que escolheram o Pátio do Colégio por seu caráter simbólico: “é o local onde vocês brancos se fixaram pela primeira vez, e começaram a tomar posse das terras que eram do nosso povo”. Foi nesse lugar que a cidade de São Paulo foi fundada, em 1554, e que se deu início à catequização dos povos indígenas da região. “Nossas terras não são mais aqui no Centro, não são no Pátio do Colégio, pois esse lugar já foi tomado por vocês há muito tempo, e não vamos nunca pedir de volta. Elas são na margem da metrópole, onde vocês ainda não destruíram, onde sobra ainda um pouco das matas onde sempre vivemos”, diz o texto.
Os indígenas também protestam contra decisão judicial que determina o despejo de cerca de 700 guaranis da aldeia Tekoa Pyau, localizada no Pico do Jaraguá, e que faz parte da área reivindicada como de sua posse tradicional. Eles lançaram um vídeo sobre esse risco de despejo, pedindo apoio ao Tribunal que vai julgar recurso apresentado pelo MPF e pela União contra a decisão.
Novo ato
Os índios marcaram para a próxima quinta-feira (24) uma passeata na Avenida Paulista para cobrar as demarcações. Cerca de 300 indígenas da etnia guarani devem se reunir no vão livre do MASP a partir das 17h.
Foi lançada também uma petição online pedindo apoio de todos na reinvindicação ao ministro Cardozo, que já ultrapassou as 3000 assinaturas. Eles prometem enviar uma caneta para o ministro por cada apoio recebido. “Nós pensamos que talvez ele não assinasse as demarcações por falta de caneta, de uma caneta bonita. Então nós vamos dar essa motivação a ele”, disse, brincando, a professora Jera Guarani.
Vivem na Grande São Paulo mais de 2000 índios guarani, distribuídos em aldeias localizadas em duas regiões distintas: o Extremo Sul e o Pico do Jaraguá. Na década de 1980, foram reconhecidas três áreas de ocupação tradicional do povo guarani na capital paulista, mas a extensão dessas áreas foi sempre insuficiente para a reprodução física e cultural das comunidades. Desde então, os guarani tem lutado para ver os limites reais de sua ocupação tradicional reconhecidos, corrigindo a extensão diminuta dessas áreas.
Veja abaixo o vídeo-manifesto sobre a ocupação do Pátio do Colégio
Site da Campanha Resistência Guarani SP: http://campanhaguaranisp.yvyrupa.org.br
Página da Comissão Guarani Yvyrupa no Facebook: https://www.facebook.com/yvyrupa
Evento Facebook do Grande Ato na Av. Paulista: https://www.facebook.com/events/294085780746244/