Protesto na abertura da Copa rende apoio internacional para causa indígena

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De Agência Brasil

Com apenas 13 anos de idade, o guarani Werá Jeguaka Mirim conseguiu chamar a atenção do mundo todo para a causa indígena no Brasil. O jovem foi um dos índios convidados para participar da cerimônia de abertura da Copa do Mundo. Com uma faixa escondida dentro da roupa, Werá driblou a segurança do evento e aproveitou a ocasião para pedir agilidade na demarcação das terras indígenas. As fotos sobre o protesto feito dentro da Arena Corinthians, zona leste paulistana, rodaram o mundo.

O pai dele, o escritor indígena Olívio Jekupe, conta que tem recebido moções de apoio de diversas partes do mundo. “Recebi muitas mensagens depois disso: índios dos Estados Unidos e pessoas de vários países da Europa, elogiando”, contou ao receber a reportagem da Agência Brasil na Aldeia Krukutu, na região de Parelheiros, extremo sul da capital paulista. “O mundo todo está querendo saber o que é demarcação. Eles estão acompanhando lá na Europa e não sabiam o que é demarcação. E agora a palavra demarcação está rodando o mundo todo”, comemorou.

Durante a entrevista, concedida minutos antes do jogo da seleção brasileira contra Camarões, uma jornalista de uma rádio alemã aguardava na aldeia pela oportunidade de conhecer Werá. O jovem, entretanto, saiu de casa sábado (21) e ainda não tinha voltado. Ele foi conhecer o grupo de rap Racionais Mcs, uma recompensa conseguida pela Comissão Guarani Yvyrupa pelo feito durante a abertura do Mundial. Olívio disse que antes a imprensa francesa também tinha procurado o jovem, sem sucesso.

“Qualquer hora ele aparece”, falou tranquilo Olívio, acrescentando que provavelmente o adolescente está em outra aldeia guarani, na zona norte da cidade. “Ele falou que vem hoje. Mas aqui não é que nem na cidade, em que você marca um horário e se a pessoa não chega você fica desesperado”, compara. Porém, o pai nem sempre age de maneira tão despreocupada em relação ao filho. Um dia antes da abertura da Copa, Werá cortou o pé em um caco de vidro, jogando futebol. “Ele quis ir de qualquer jeito [à abertura]. Ainda mais porque é corintiano. Mas, eu fiquei preocupado, porque abriu um corte desse tamanho no pé dele”, relata mostrando com os dedos a extensão do ferimento.

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Naquele dia, Olívio ainda não sabia dos planos para o protesto feito pelo filho. Mas, assim que recebeu a foto, o pai foi um dos principais responsáveis por divulgar a manifestação. Segundo Olívio, antes de saberem do ato, muitas pessoas criticaram a presença dos índios na abertura do Mundial. “Como se a gente fosse pelego, que não está preocupado”, conta ao mostrar orgulhoso o quarto onde o filho dorme. Na parede de madeira está pregada a credencial usada na cerimônia. Sobre a mesa, uma pequena televisão que Olívio ligou para assistir ao jogo do Brasil. “A Copa a gente não vê como algo prejudicial, porque para o mundo todo a Copa é uma forma de lazer. O futebol, que é uma coisa mundial, também é comum dentro das aldeias indígenas”, explica.

“O que nós somos é contra a injustiça que o governo tem feito contra a gente em todas as áreas.  A gente está com um problema sério com a demarcação das terras indígenas. E os índios estão revoltados no Brasil, porque nossos parentes vão a Brasília e não são bem tratados lá”, continuou. Apesar da presença do esporte nas comunidades, Olívio reconhece que os índios não compartilham a empolgação vista nas cidades com a Copa. “Não é igual na cidade, na aldeia é mais calmo. Cada um na sua casa, devem estar assistindo o Brasil, mas não são agitados igual o povo da cidade”, analisou.

Do lado de fora da casa, sua esposa, Maria Kuruxu, mãe de Werá, trabalhava na confecção de um pau-de-chuva. Mesmo com o início da partida, não fez menção de largar a construção do instrumento musical. Na aldeia não se ouvia nenhum som, além dos barulhos típicos da mata. Olívio contou que eventualmente os guaranis até assistem os jogos reunidos. Mas, apesar dos quatro gols que deram a vitória ao Brasil, a Aldeia Krukutu permaneceu em silêncio durante o jogo de segunda. Lá, os guaranis reivindicam há 12 anos  a ampliação da área de 26 hectares e onde vivem cerca de mil pessoas.

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