A Comissão de Diversidade Sexual da Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) divulgou hoje (13) uma nota de repúdio ao caso da morte de 50 gays ocorrida nos EUA e, também, contra a violência e intolerância à comunidade LGBT. “No Brasil, o “terror” ficou por conta de comentários homofóbicos nas redes sociais e em canais de comunicação.”, classificou a nota.
Pelo menos 50 pessoas morreram e 53 ficaram feridas no tiroteio na boate Pulse, em Orlando, Flórida, nos Estados Unidos, ocorrido na madrugada de ontem (12). O massacre teve cunho homofóbico, pois, segundo o pai do atirador, o rapaz não tolerava ver dois homens se beijando.
Os números foram confirmados pela polícia local e o atirador, que também morreu, foi indentificado como Omar Mateen, 29 anos, norte-americano de origem muçulmana.
“A mobilização e a educação de gênero são importantes para o combate à LGBTfobia, ao machismo e ao racismo. Somente assim vamos parar de crucificar essas pessoas. Todavia, a legislação nacional não garante esse importante conteúdo relevante para termos uma sociedade livre de toda forma de discriminação.”, disse o comunicado da ANADEP.
Leia a nota na íntegra abaixo:
50 cruzes
50 mortos e mais de 50 feridos no maior tiroteio em massa da história dos EUA. O alvo? Uma boate LGBT. A reação do mundo? Tristeza. Teceram comentários homofóbicos sobre a matéria nos veículos de comunicação no Brasil? Infelizmente, sim.
Em um dia de terror para a comunidade LGBT internacional, autoridades americanas afirmaram, na manhã de ontem, que 50 pessoas morreram e outras 53 ficaram feridas em ataque na boate Pulse, voltada ao público gay em Orlando, na Flórida, EUA!
No Brasil, o “terror” ficou por conta de comentários homofóbicos nas redes sociais e em canais de comunicação. A homofobia é um problema estrutural no Brasil e no mundo atinge jovens, negros e pardos, nas ruas e em suas próprias casas. À titulo de exemplo, o relatório da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência registrou que, de janeiro a dezembro de 2011, foram denunciadas 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos.
O esforço em combater todas as formas de discriminação tem constado reconhecidamente da agenda da Organização das Nações Unidas (ONU), que, no marco da Declaração Sobre Orientação Sexual e Identidade de Gênero apresentada à Assembleia Geral em 18 de dezembro de 2008, divulgou, em dezembro de 2011, o primeiro relatório global sobre os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, no qual descreve um padrão de violações de direitos humanos presente em diversos países e reconhece que as pessoas LGBT são frequentemente alvo de abusos de extremistas religiosos, grupos paramilitares, neonazistas, ultranacionalistas, dentre outros, os quais, muitas vezes, têm agido internacionalmente sob a forma de rede. Destaca, ainda, a situação de risco peculiar à qual estão submetidas as mulheres lésbicas e os/as transexuais.
Há um ano, na parada LGBT de São Paulo, a mulher transexual, Viviany Beleboni, de 26 anos, se crucificou como forma de protestar. “Foi um protesto. Fui representar as travestis que são crucificadas todos os dias.”
A mobilização e a educação de gênero são importantes para o combate à LGBTfobia, ao machismo e ao racismo. Somente assim vamos parar de crucificar essas pessoas. Todavia, a legislação nacional não garante esse importante conteúdo relevante para termos uma sociedade livre de toda forma de discriminação.
No tocante ao discurso de ódio, está na hora de refletirmos o que a dignidade e a vida de outra pessoa representa de fato. Não bastasse a violência inimaginável de um tiroteio, as vítimas e seus familiares ainda são obrigados a ler e a ouvir mensagens cruéis de apoio e de incentivo a que outras mortes aconteçam exclusivamente em razão da orientação sexual ou identidade de gênero.
Desse modo, a Comissão de Diversidade Sexual da Anadep repudia todos os atos de violência e intolerância à comunidade LGBT e presta sua solidariedade e condolências aos familiares e amigos das vítimas da boate Pulse, de Orlando, mas sobretudo, às milhares de pessoas que são vítimas de transfobia, lesbofobia e homofobia todo ano no Brasil.
FONTE: ANADEP