Perito diz que detentos não tiveram chance de reação em julgamento do caso Carandiru

Na quarta etapa do julgamento do massacre, ocorrido em 1992, júri será formado por três mulheres e quatro homens

Carandiru

Testemunha de acusação, o perito criminal Osvaldo Negrini foi ouvido em 17/03 na quarta etapa do julgamento do Massacre do Carandiru, no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Negrini prestou depoimento em todas as etapas do julgamento. Ele voltou a dizer que não houve confronto entre policiais e detentos, porque os presos do Pavilhão 9 não tiveram a possibilidade de reação. Segundo ele, é possível afirmar isso por causa do grande número de tiros encontrados nos corpos dos detentos, e também com base nas marcas de balas nas paredes da cela. “Cerca de 96% dos tiros foram feitos da soleira da porta para dentro das celas”, disse o perito.

No julgamento, 12 policiais do Grupo de Operações Táticas Especiais são acusados pela morte de dez detentos e pela tentativa de homicídio de três presos que ocupavam o quinto pavimento da antiga Casa de Detenção do Carandiru. O massacre ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos durante ação policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do Carandiru, que ficava na zona norte da capital paulista.

O júri da quarta etapa do julgamento do massacre do Carandiru será formado por três mulheres e quatro homens. A escolha dos jurados teve início em 17/03 às 10h30, no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste paulistana. Entre os sorteados, inicialmente, a defesa recusou um e o Ministério Público, três. Em seguida, todos passaram por análise ambulatorial, sendo que apenas um não passou nos exames. Após a definição do júri, a sessão foi aberta às 12h10 e, imediatamente, suspensa até as 13h30 para leitura de peças e almoço.

Negrini contou que esteve no Pavilhão 9 em três oportunidades para fazer a perícia. Ele disse que na cela 9-512E, localizada no quinto pavimento, a perícia encontrou várias marcas de tiros nas paredes, o que, pelas características das marcas, permitiu que ele concluísse que os tiros foram feitos por rajadas de metralhadoras. “As marcas nas paredes foram de rajadas”, disse ele. Vários detentos morreram na cela. Um deles morreu com 13 disparos.

O perito contou que, ao entrar no Pavilhão 9 no dia 2 de outubro, logo após a entrada da Polícia Militar, teve dificuldades para fazer a perícia, porque a luz do local tinha sido cortada. Mesmo assim, diz ter visto marcas de sangue e dezenas de corpos empilhados no segundo pavimento do Pavilhão 9. “Naquele dia, contei 89 corpos”, disse ele.

Nas outras duas vezes em que esteve no Pavilhão 9, o perito enfrentou dificuldades para fazer a perícia, porque o local tinha sido lavado e limpo. O que sobrou, segundo ele, foram as marcas dos tiros nas paredes. “Houve tentativa de prejudicar o trabalho da perícia desde o primeiro momento. Não foram encontrados estojos [cápsulas] vazios. Pela minha contagem, deveria ter uns 300 estojos vazios no local, mas não tinha nenhum. O estojo identifica a arma que fez o disparo. Mas os vestígios foram eliminados. Havia várias marcas nas paredes, mas os vestígios dos estojos desapareceram”, falou o perito.

O advogado de defesa Celso Vendramini disse, antes entrar no plenário, que vai negar autoria do fato diante da inexistência de provas e da impossibilidade de individualizar a conduta dos réus. “Este é um júri ideológico e político. Eles efetuaram disparos, sim, mas que eles acertaram algum preso, não há prova alguma”, declarou. O júri deve durar de cinco a seis dias.

Entenda o caso

 O maior massacre do sistema penitenciário brasileiro ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante a invasão policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do Presídio do Carandiru.

Nos primeiros períodos do julgamento, concluídos no ano passado, 21 anos depois dos fatos, 23 dos policiais acusados foram condenados a penas de 156 anos de prisão pela morte de 13 presos e outros 25 a penas de 624 anos por 52 das mortes.

Um juiz chegou a condenar em 2001 o coronel de Polícia Ubiratan Guimarães, que comandou a operação, a 632 anos de prisão pela morte de 102 dos presos, mas esse julgamento foi cancelado em 2006 por um tribunal de segunda instância e o oficial foi assassinado meses depois.

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